Data de publicação: 16/03/2008
A espanhola Olga Mesa não é uma desconhecida dos palcos portugueses e até já nos trouxe peças surpreendes e com um certo interesse em termos dramáticos. Hoje encaixa-se bem nos cenários da “não-dança” portuguesa, designadamente à frente de uma armação metálica montada sobre a plateia do Grande Auditório da Culturgest, onde os espectadores se acotovelam, sonolentos, bocejantes e de relógio em riste.
O tempo tem exercido um efeito de “fade in” na programação de dança daquele espaço cultural lisboeta subsidiário da Caixa Geral dos Depósitos e, a avaliar pelo que está para vir, parece não haver sinais de melhoras.
O título “Solo às Cegas, com lágrimas azuis” não deixa de ser sugestivo e, até, estimulante, mas com uma avantajada Olga a rebolar-se no chão, ora aos gritos ora de cócoras a debitar frases ininteligíveis, a caminhar em sapatos altos com um ar meio desvairado ou a sussurrar textos confusos, o resultado não poderia ser mais decepcionante.
Com uma iluminação parca, ou inexistente (muitas cenas passam-se no escuro) e alguns objectos espalhados pelo chão - designadamente uma armação com um micro, um projector de filmes e alguns espelhos – Olga Mesa criou um solo, com movimentos incipientes, que se alonga por uma hora e vinte minutos numa ambiência algo desoladora. A não teatralidade da peça confere-lhe características de “ensaio” em que Olga dá indicações aos seus colaboradores gritando, repetidamente, a expressão “black out”.
“Solo às Cegas” parece ter contornos auto-biográficos e, já na recta final, torna-se algo “tanguero”, com excertos da “Balada Para Um Louco” cantada em japonês e o som do bandoneon, sem que isso tivesse alguma repercussão no conteúdo ou no movimento.