Data de publicação: 16/04/2008
Depois de ter estado em Portugal – na Culturgest – com a peça “Público”, há pouco mais de dois anos, Mathilde Monnier, a directora do Centro Coreográfico de Montpellier, trouxe ao mesmo palco lisboeta, uma nova criação: “Tempo 76”.
Se o título é evocativo de alguma nostalgia ou memória, a peça, em si, é uma longa sequência de movimentos bem trabalhados e sem qualquer aparente linha narrativa.
O que é certo é que o público da Culturgest é muito generoso e consegue bater palmas e gritar bravos depois de não ter visto nada de verdadeiramente estimulante ou novo.
A peça resume-se a uma grande contradição na dança contemporânea – a “reabilitação” do uníssono – e começa com um “truque” há muito inventado por Trisha Brown, nos Estados Unidos. Durante uns bons minutos um padrão com bailarinos em posições fixas desloca-se no palco (neste caso coberto por relva artificial) em todas as direcções, o que faz com que ciclicamente alguns dos bailarinos desapareçam nos bastidores ou atrás do palco.
Mas, ao contrário de muita da dança de Monnier, em “Tempo 76” nada é improvisado, incluindo risos e choros que aparecem bastante a despropósito. Tal como Pina Bausch, Monnier faz de movimentos e gestual do quotidiano, a sua matéria coreográfica mas, ao contrário da “diva de Wuppertal”, a coreografa francesa, para além de não teatralizar o movimento com textos parece interessar-se “pelo que fazem” e não “pelo que os motiva a fazer”…
Em conclusão poder-se-á, mesmo, afirmar que a escrita coreográfica de “Tempo 76” é, manifestamente, “seca” e, quantas vezes, se revela demasiado cerebral apenas interrompida por um ou outro momento de maior expontaneidade.