Há muito que, na capital, não se ouvia falar de Joana Providência, que, há quase duas décadas, veio de Braga para Lisboa e há cerca de 10 anos se radicou no Porto, onde trabalha maioritariamente como coreógrafa de companhias de teatro.

Recentemente veio à Culturgest apresentar o seu último trabalho, com o sugestivo título “Ladrões de Almas”, numa co-produção daquela instituição e da ACE Teatro do Bolhão.

Apontada como uma das “estrelas despontantes” da dança, na ingénua euforia dos anos oitenta cujo centro geográfico, inevitavelmente, passava pelo Bairro Alto, o percurso da “divina” Providência – como chegou a ser chamada – foi feito de altos e baixos. Porém, o seu trabalho nunca desapontou, pela simples razão de nunca ter tido grandes rasgos de genialidade. E não ter sido engolida pela voragem dos tempos (como muitos dos seus “cúmplices” e “camaradas”) ou “atropelada” por alguns dos seus mais fervorosos apoiantes, já demonstra um muito positivo espírito de constância.

Este seu trabalho, ainda centrado numa “escola” que aponta para o teatro das banalidades e que entra pelo território da “não-dança” importado de Inglaterra por Madalena Vitorino com quem, de resto, no passado colaborou, perde-se por lugares comuns e expedientes coreográficos e cenográficos já muito vistos.
Corridas com bicicletas, danças com panelas e caixas de cartão, garrafas e garrafões de água, cadeiras abandonados no solo e outros adereços na linha do “teatro povero”, para além de uma proposta já muito vista (um fio de areia que se despenha da teia e funciona como uma espécie de difusor do Tempo), ao que se juntam textos escolhidos com pouca coerência narrativa mas ditos com alguma convicção pelos cinco intérpretes, são detalhes que pouco contam numa peça em que nada se ama ou se odeia.

A espanhola Ainhoa Vidal é a idiossincrática de serviço, com os seus esgares e abuso de movimentos animalescos, enquanto António Júlio parece mais maduro e consciencioso no seu trabalho de actor que os seus colegas Tânia Matos, Andrea Moisés ou Andreas Dyrdal. Nota-se, realmente, faltar direcção aos actores-bailarinos que seguem uma dramaturgia lassa e pouco estimulante e, sobretudo, um "pensamento coreográfico" passível de ser dançado.

Melhores eram, seguramente, os tempos em que a inspiração de Joana Providência transbordava dos videodança do grupo francês L'Esquisse (de J. Bouvier e R. Obadia) que poucos conheciam em Portugal, mas em França, na época, eram um “must”!
Apesar de tudo, este espectáculo em que se pretende "mostrar pequenos grandes lugares dentro de cada um numa viagem pelo tempo”, que dura quase uma hora e não faz juz às “almas roubadas” nem aos textos desviados de “Lugar Lugares” (de Herberto Helder) demonstra que, há pouco mais que o Balleteatro e um ou outro criador com algum interesse, mexendo e tentando manter viva a chama da dança na Invicta, mesmo que, à custa de bailarinos importados.

E que Joana Providência, entre todos, é uma sobrevivente.