Data de publicação: 09/06/2008
O último espectáculo dirigido por Clara Andermatt – “Meu Céu” - veio dos terreiros do castelo de Vila da Feira para o ex-libris que coroa Lisboa, numa noite fria de Junho.
Dada a beleza do local, o que podia ter sido um “sonho de uma noite de Verão” não foi além de uma agitada exibição de uma meia dúzia de “figuras exóticas”, penduradas em paredes e cordas ou expostas em carros deslizantes, mais ou menos desligadas da realidade, e com muito pouco ou nada em comum.
Para as seguir, os espectadores, de nariz no ar para apanhar os melhores ângulos de visão, partiram atrás de um grupo de cantores e, depois, de uma zorra, em busca de uma mais valia dramatúrgica que parece nunca ter chegado a existir.
As palavras ditas em tom empolado não chegaram a ter a força necessária de um texto inteligível e o movimento, em “raids” ou em secções vagamente coreografadas, nunca foi suficientemente convincente para ultrapassar a barreira da mera improvisação de circunstância.
As sonoridades agressivas, da autoria de João Lucas e Vitor Rua, ora vindas de um instrumento vocal, ora de secções avulsas de música gravada ou de um piano junto de uma árvore, bem se poderiam intitular “we have caos in the garden” (temos o caos no jardim).
“Meu Céu” resultou, pois, numa espécie de entretenimento intra muros que serviu para animar, de um modo algo “circense”, o interior do belíssimo castelo de S. Jorge.
Durante hora e meia quase tudo pareceu servir para distrair os espectadores e captar o seu interesse nesta espécie de exercício de teatro de rua em que dois bailarinos Luís Guerra (ex-Ballet Gulbenkian) e Tânia Carvalho (dos Bomba Suicida), vestidos de renda, imitavam primatas guinchando e repetiam movimentos grotescos empoleirados em dois selins.
Do elenco também fazia parte uma actriz de cabelo bizarramente colorido (Lúcia Sigalho) num registo que se balançava entre o épico e o cómico, envolto em inusitadas convulsões. De vez em quando, a mesma debitava um texto que fazia pouco ou nenhum sentido em cima de um "trolley" que era empurrado por sete rapazes bem apessoados e de tronco nu ("traceurs") que, inesperadamente, corriam por entre a multidão em todas as direcções, subiam e desciam paredes e calcorreavam, sem sentido, as ameias.
A juntar a tudo isto, um “fauno” (Avelino Chantre) com molas nos pés - saltitando onde houvesse um espaço livre - e uma cantora (Ana Celeste Ferreira) suspensa de um cabo de aço por cima das copas das árvores, debitando cascadas de notas agudas ao mesmo tempo que espartilhava dentro de um peculiar fato com correias e uma cabeleira ao estilo Amy Winehouse.
Não faltou também um músico (João Lucas) sentado em frente de um piano de cauda e, para completar o ramalhete, um grupo de seniores uniformizados, vindos do Norte, para debitar uns cânticos em lugares estratégicos das muralhas ou, simplesmente, deambular entre os espectadores.
Em resumo, um alargado conjunto de pessoas não treinadas teatralmente “colaram-se” a algumas figuras estranhas, confeccionadas por Andermatt, numa tentativa de juntar o real com as fantasias cénicas da coreógrafa de "Dançar Cabo Verde".