Data de publicação: 27/01/2008
Desde há pouco mais de uma década que se comemora, no nosso País, o Dia Mundial da Dança, coincidente com o nascimento do grande inovador francês do século XVIII, Jean-Georges Noverre. Com este tipo de efeméride pretende-se aumentar a sensibilização para todos os tipos de dança e a enorme contribuição que ela pode trazer à nossa cultura e ao desenvolvimento comunitário.
Embora Portugal não prime por uma tradição, ou melhor, um gosto que ponha esta arte a um nível em que a maioria dos países a coloca (veja-se a importância do flamenco na cultura espanhola, da dança clássica na italiana e, sobretudo, na francesa que, a par da alemã e da norte-americana, também tem revelado um especial carinho e deferência para com a chamada dança contemporânea) poder-se-á dizer, com alguma propriedade, que mesmo assim, cá se vai dançando…
Escusado será dizer que o anterior governo prometeu e enganou muito, embora o ministro Carrilho se tivesse revelado um homem de cultura empenhado em certos projectos, ao contrário de Sasportes que, vindo da dança, não poderia ter feito pior. Do actual executivo, o melhor que se pode dizer é que além de não dar mostras de grande interesse pelos circuitos de criação, produção e difusão da dança, parece apostado em perpetuar um esquema de nomeações extemporâneas – veja-se o caso de um turco para a direcção da Companhia Nacional de Bailado - e ainda estrangular os meios que sempre foram reduzidos. Do IPAE esperar-se-ia que funcionasse com técnicos especializados e júris idóneos para que deixasse de ser um ninho de enganos e de oportunismos e pudesse distribuir os dinheiros públicos de modo a contribuir para a elevação da nossa dança dentro e além fronteiras.
Por estas e muitas outras razões – às quais a pobre qualidade do ensino não está alheia – o nível da dança portuguesa ainda é baixo salvando-se, como nas outras áreas, um ou outro artista que se evidencia fruto de talentos inatos e muito pouco como produto de um contexto que já não tem a desculpa de estar fora da Europa e muito longe da rota das Américas.
Com este tipo de efeméride pretende-se, acima de tudo - no dia 29 de Abril - aumentar a sensibilização para todos os tipos de dança e para a enorme contribuição que ela pode trazer à nossa cultura e ao desenvolvimento comunitário.
Instituído em 1982, por iniciativa do Comité de Dança do Instituto Internacional do Teatro (ao que se juntaram o Conselho Internacional da Dança/ UNESCO e a Aliança Mundial da Dança), ele tem, nos últimos tempos, sido acompanhado por uma mensagem, difundida internacionalmente, da autoria de uma personalidade reconhecida no mundo da dança.
Em 2003, essa honra, coube ao nosso conhecido Mats Ek, coreógrafo sueco muito dançado na Europa e de quem o Ballet Gulbenkian possui em reportório várias obras de enorme popularidade.
Numa altura em que muita gente se interroga sobre o futuro da nossa dança - e ele passa, naturalmente, por muitas decisões e apoios a nível governamental – as palavras de Ek fazem todo o sentido e devem ressoar por, pelo menos, mais 364 dias!
“O que é a dança?” interroga-se o filho de outra coreógrafa famosa, Brigit Cullberg.
Para depois afirmar: se alguém responder a essa pergunta não é uma pessoa confiável.”
E acrescenta, “mas, de qualquer maneira, deixem-me tentar.
A dança é pensar com o corpo. E será necessário pensar com o corpo? Talvez não para sobreviver, mas sim para viver. Há tantos pensamentos que apenas podem passar pelo corpo.
Coisas como a paz poderão ser bem mais importantes que a dança, porém, precisamos da dança para celebrar a paz. E para exorcizar os demónio da guerra, tal como o fez Nijinsky.
A anarquista, Emma Goldman, talvez o tenha dito da melhor maneira: não vale a pena lutar por uma revolução que não me permita dançar.
O deus Shiva criou o universo com a sua dança. Mas a dança é o oposto de todas as pretensões divinas. A dança é uma eterna tentativa, tal como escrever na água. A dança não é a vida mas mantém vivas todas as pequenas coisas que constituem a grande coisa.”
Entre as iniciativas que tiveram lugar neste dia - ainda raras em Portugal, ao contrário dos Estados Unidos em que se que comemora toda uma Semana Nacional da Dança, de 25 de Abril a 4 de Maio – contam-se as promovidas no concelho de Oeiras, designadamente no Centro de Dança de Oeiras (em Algés) e no Auditório Municipal Eunice Muñoz.
Assim, o CDO abriu as suas portas, durante a manhã para oferecer o raro privilégio do contacto com ensaios de criação de uma obra por bailarinos profissionais.
Entre as 13h30 e as 15h00 seguiu-se uma “master class” (de dança clássica) ministrada pelo Professor Yuri Chatal, um mestre de renome internacional e colaborador assíduo do CDO.
Pelas 15h30 deu-se início ao colóquio “Dança e… Novas Danças” tendo por moderador Celeste Gil (Câmara Municipal de Oeiras).
Os temas abordados foram os seguintes:
Ensino! Que ensino? - por Graça Bessa (Academia de Dança Contemporânea)
A Aventura da Viagem… - por Alexandra Bataglia e Pedro Paz (Amálgama - Companhia de Dança de Mafra)
Incidência e Espectro dos Festivais – por Ana Rita Barata (Associação Vô’Arte)
Pensar, Escrever e Divulgar – por António Laginha (Revista da Dança) e
A Cultura e as suas Políticas – por Ana Isabel Beça (Câmara Municipal de Oeiras)
A seguir teve lugar, no pátio do Palácio Ribamar, uma apresentação informal de algumas danças por alunos do CDO, seguida pela inauguração da exposição de pintura com obras de artistas internacionais, “Bailarinos Vestem a Dança”
A partir das 18h00 a comunidade e todos os convidados puderam assistir a aulas abertas de dança contemporânea, flamenco e ritmos latinos.
Pelas 21h30, a Companhia de Dança Contemporânea (CêDêCê), de Setúbal, sob a direcção de Graça Bessa e António Rodrigues, apresentou uma nova versão do bailado “Romeu e Julieta” , da autoria de Graham Smith.
Em Lisboa, No Teatro S. Luiz, o Ballet Gulbenkian ofereceu dois espectáculos com obras de Jirí Kylián e Ohad Naharin a horas pouco habituais: 15h30 e 19h30. Paulo Ribeiro estreou, em Viseu, a obra “Silicone Não”, no Teatro Viriato, enquanto Miguel Pereira repetiu, nas Caldas da Rainha, “Notas Para um Espectáculo Invisível”, ambos às 21h30. A CDA dançou “1000 e 1 Acqua”, no Auditório Municipal de Almada (21h30), enquanto a DançArte organizou uma sessão de cinema e um chá dançante no Poceirão (Palmela). A Companhia de Évora organizou um baile num monte alentejano e, mais a sul, em Albufeira, realizou-se um espectáculo de dança na Casa da Cultura, pelas 21h30. |