Estreia Auspiciosa

Já há muito que o Ballet Gulbenkian (BG) necessitava de um novo director e, embora isso ainda não tenha sido especialmente evidente na estreia de Paulo Ribeiro à frente do grupo da Fundação, na passada quarta-feira, o que é certo é que ele herdou um conjunto afinado e, agora, cheio de garra.

O antigo director da “companhia de Viseu”, jogou pelo seguro recuperando uma obra já muito vista da autoria do checo Kylián, “Anjos Caindo”, e dois trabalhos de sucesso da canadiana Marie Chouinard, respectivamente, “Prelúdio à Sesta de um Fauno” e “A Sagração da Primavera”.

Apesar desta trilogia se revelar prenhe de dança com densidade e um invejável nível de energia, o que é factual é que a primeira peça, oriunda do Nederlans Dans Theater, já foi muito dançada pelo mundo, inclusivamente em espectáculos do BG, e, versões das outras, já há várias numa companhia a poucos anos de completar quatro décadas. Não é que este “Prelúdio” não se revele um trabalho muito interessante, embora não apague a visceral, intensa e sensual interpretação de Benvindo Fonseca na abordagem de Wellenkamp à “ideia” de Nijinsky (1912); nem que esta “Sagração” seja “menor” se bem que não nos traga algo de verdadeiramente genial, em contraponto com a avassaladora peça musical de Stravinsky, originalmente da autoria do mesmo coreógrafo para os Ballets Russes de Diaguilev (1913).

Tratou-se, pois, de mais uma homenagem à “velha dança” mas, se Chouinard recorre a uma imagética e sexual bestialidade que lembra as fotos de Nijinsky, já a sua “Sagração”, de cariz abstracto, se afasta diametralmente do “folclorizante” e colorido conceito original. O brasileiro Allan Falieri, de exageradas coxas e pelos enormes, move-se à frente do palco, dentro de uma cortina de luz, com esgares e cornos na cabeça, quebrando um para lhe servir de avantajado falo vermelho. A “Sagração”, superiormente interpretada por 16 bailarinos – com as mulheres de peitos desnudados – gere-se por uma luminotécnica superior e um cativante articulado de pequenas danças que explodem em vivacidade e desarticulações corporais.

Embora o BG se pudesse apresentar bem mais “português” é de saudar o regresso de Teresa Simas e a contratação de cinco jovens portugueses: Iolanda Rodrigues, Mónica Gomes, Pedro Mendes, Roger van der Poel e Luís Guerra.