Data de publicação: 27/10/2007
Já na sua décima quarta edição, o Festival de Dança de Cannes abriu este ano as suas portas ao público da Riviera com a mais cintilante das estrelas francesas, Sylvie Guillem, numa peça de contornos mediterrânicos «Carmen», protagonizada pelo Ballet da Ópera de Lyon.
Esta companhia - que tem viajado por todo o Mundo mas que nunca dançou em Portugal – é dirigida por Yorgos Loukos, o nome por detras das escolhas artísticas deste certame que, de dois em dois anos, anima uma região bem mais conhecida pela sua devoçao à Sétima Arte.
Guillem, que já dançou em Portugal como «artista convidada» da Companhia Nacional de Bailado, interpretou com brio e muita agilidade a bela peça assinada por Mats Ek, um coreógrafo sueco que é bem conhecido do público do Ballet Gulbenkian e que nos tem dado varias «revisões» iconoclastas de obras do reportório clássico tradicional.
Contudo, o certame, na realidade, abriu com um solo – opção algo curiosa num festival de cariz internacional – criado e dançado pelo inglês Russell Maliphant.
Este jovem artista, saído das fileiras do Ballet Real de Inglaterra, apresentou um trabalho poético, envolvente e de movimento solto e versatil iluminado de maneira habilidosa produzindo a impressão do seu corpo quase flutuar sobre o palco. Seguiu-se-lhe um trio curto em que, em cânone ou em uníssono, três mulheres cortam o ar com os braços deixando um rasto no espaço, como se de seres alados se tratassem. A terminar, o grupo que Portugal precisa, absolutamente, de conhecer muito em breve, apresentou um quinteto em estreia gaulesa, sobre música de Andy Cowton, intitulado « Nova Iorque ».
A representação francesa passou, seguidamente, pela Companhia Propos, de Denis Plassard, com a peça «L.O.U.P», uma movimentada produção organizada em torno da palavra lobo (com diferentes conotaçoes associadas à historia do Capuchinho Vermelho) e situada dentro de uma floresta de frogoríficos esvaziados.
O norte-americano John Jasperes, a «coqueluche» de uma certa facção de público associada à dança contemporânea europeia, apresentou uma nova criação, «Tethered to Wind», em que uma bela escultura suspensa e móvel dominou o algo entediante movimento de cinco pouco estimulantes bailarinos.
Logo a seguir a espanhola Eva la Yerbabuena, e companhia, abrilhantou uma noite de flamenco intenso e sensual em que a batida dos pés, o canto lamurioso de três homens e a musica de sonoridades «árabes» de outros tantos músicos, conquistaram a sofisticada plateia do Palácio dos Festivais.