Data de publicação: 27/10/2007
Pois é bem verdade... é uma "vergonha", sim, e já vem de longe! Desde o tempo em que o IPAE tinha uma direcção que escolhia os membros do júri segundo as suas identificações "estéticas" (e conveniências mais ou menos corporativistas ou de amizade) para distribuir subsídios por pessoas a quem alguém alheio ao IPAE - um certo “guru” da chamada "nova dança portuguesa" - decidia fazer ou não parte de um grupo restrito que ele próprio inventou.
Nunca, então, se colocou o problema da boa ou da má dança, da séria ou da indulgente, da que tem retorno ou da que ninguém quer ver... mas apenas o de ser "nova", como se isso, em Portugal, já fosse corolário de obrigatoriedade de subsídio!
O concurso do ano passado foi, na minha opinião, muito mais escandaloso do que o que decorre este ano, pela simples razão de que a "arrogância, desonestidade e incompetência" do júri foi assinalada por muitos e nada se fez para evitar situações bastante negativas! A pretexto de uma série de argumentos sem qualquer fundamento foram, literalmente, concedidos subsídios "aos amigos" deixando de fora quem não pertencia ao chamado "grupo do Fórum Dança"! Mesmo assim o ministro Sasportes levou por diante as decisões de pessoas que ele não tinha escolhido o que suscitou muitos protestos, designadamente, alguns processos que estão, neste momento, a correr no Supremo Tribunal Administrativo!
É que ninguém é tão ingénuo ao ponto de acreditar na boa fé de quem concedeu o maior subsídio de 2001 a um projecto vago e mal elaborado da autoria da directora do CPA - do Centro Cultural de Belém - e de um produtor que acumula os cargos de director dos teatros municipais S. Luiz, Maria Matos e D. João V (Damaia) e é, simultaneamente, assessor para a área do teatro no CCB!
Curiosamente, todos os que me estou a referir vêm do Fórum Dança, por onde também passou a ex-secretária de estado da cultura, mulher do primeiro ministro demissionário, e o actual assessor artístico da Culturgest.
O que é um facto é o referido projecto acabou por não ser concretizado prejudicando aqueles que não receberam qualquer subsídio, designadamente, os que apresentaram projectos consistentes, com visibilidade, e que já deram provas de possuir um trabalho sério e de qualidade. Já não é a primeira vez que isto acontece e, no passado, consta que dinheiros houve que nem sequer foram devolvidos ao IPAE, o qual nunca fiscalizou as contas dos subsidiados e, segundo parece, até aceitou de alguém, "despesas de café" no valor de 3000 contos!
Este ano o júri não foi em cantigas e, apesar de alguns disparates óbvios - o subsídio à "inexistente" Companhia de Dança de Lisboa é um exemplo -, tentou acabar com certas "benesses" dadas como adquiridas! O facto de alguém receber um prémio por uma boa obra não tem, necessariamente, que implicar uma nova verba se esse coreógrafo não tiver a mínima ideia do que se propõe fazer. E se teve sucesso junto do público também deve ter ganho o suficiente para fazer um simples vídeo de um "trabalho em progresso" para convencer o júri da sua competência e imaginação!
Segundo me foi dado perceber este júri tentou acabar com certas situações que têm vindo a beneficiar regularmente alguns "eleitos". Coreógrafos (ou aprendizes de) há que, no passado, receberam subsídios em triplicado pois, além do apoio para a criação propriamente dita, receberam através de "estruturas de produção", de apoios para "residências" (como se fosse indispensável ir passar uns tempos a Nova Iorque ou Vila Velha de Ródão para se criar algo de inovador) e, até, de instituições como o CCB que lhes co-produziu os espectáculos.
O que é inadmissível é que pessoas que nunca foram artistas e têm interesses óbvios na matéria, venham agora a terreiro defender os "coitadinhos" dos coreógrafos como se eles não tivessem cabeça e voz para levantar. Pois que, junto do seu "público", façam ouvir os seus protestos e demonstrem a necessidade de o Estado os ajudar a produzir obras que enriqueçam o nosso património coreográfico. O País, que tem obrigação de ter teatros bem apetrechados e abertos a todos os criadores, independentemente das suas opções artísticas e estéticas, para receber peças de qualidade e que cativem o público que paga os impostos onde o IPAE vai buscar as suas verbas, e programas bem delineados de "intenerância" em Portugal e no estrangeiro, não tem necessariamente de alimentar subsídio-dependentes que partem do princípio que podem passar o resto da vida a fazer "works in progress" ou a escudarem-se num estéril "experimentalismo" que resulta em casas às moscas ou em espectáculos para a família e amigos.
Não é difícil, hoje, manipular uma certa imprensa que, a todo o custo, procura o sencionalismo e não se preocupa em averiguar seriamente o que está bem no fundo das questões e, também, das “queixas” dos que vêm o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés!
Por isso, são os que não têm a cobertura dos "media" mas que fazem um trabalho subterrâneo e honesto servindo a Dança e nunca dela se servindo, os mais prejudicados em todo este circo. Os que não vivem de empregos estatais e subsídios, à sombra de partidos ou embalados por oportunismos de toda a espécie, são os que têm feito e farão a dança que passa e deixa um lastro luminoso e intenso nos olhos de quem ama e respeita os seus artistas.