Data de publicação: 27/01/2008
Foi por insistência de toda a gente (que dizia que ele tinha "muito jeito") que João Galante se matriculou na Escola António Arroio para estudar Banda Desenhada. Como uma coisa puxa a outra, a curiosidade levou-o a inscrever-se nos cursos de Artes Plásticas e de Fotografia do AR.CO, e, porque o IFICT - Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral - ficava mesmo ali ao lado, interessou-se também pelo teatro. Fez primeiro o curso de Iluminação, depois o de Formação de Actores, e diz que nessa altura já tinha percebido o que queria ser: queria estar no mundo das artes. Ele, que era "doentiamente tímido", conseguia superar-se quando estava em palco e dava por si a ansiar a chegada desse momento carregado de adrenalina. João Galante continuou a trabalhar nas Artes Plásticas e em teatro — participando em espectáculos do projecto Canibalismo Cósmico e, depois, do Olho —até que a dança apareceu na sua vida. Inscreveu-se no curso do Fórum Dança e em boa altura o fez, pois foi o passo decisivo para começar a trabalhar profissionalmente nas artes performativas. Aí conheceu Madalena Victorino, Rui Nunes, Vera Mantero e Francisco Camacho, coreógrafos que o ajudaram a repensar o seu corpo e a dar um rumo ao seu trabalho, e lhe permitiram criar e apresentar ao público alguns dos seus projectos.
Foi também na sequência deste curso que se formou a dupla Teresa Prima/João Galante, que deu muitos frutos: "À Espera do Raio" (1994), "O Céu Fica por Cima" (95), "Contra a Morte" (96), "Castanho é a Cor da Alma do Meu Verdadeiro Amor" (96), "Um Golpe de Sorte Numa Mera Crise Não é o Suficiente" (97), "Voodoo Story" (98) e "Babylónia" (98). Galante afirma que trabalhar a dois é muito gratificante porque o obriga a não ser "déspota" e a "calar-se e a aprender a ouvir o outro". Depois, juntar experiências diferentes no mesmo projecto é sempre enriquecedor, quanto mais não seja para o resultado final. É por isso que continua a trabalhar com outras pessoas. Assinou, por exemplo, em parceria com Jessica Levy, a peça "R.E.C. — Reply, Erase, Copy", que apresentou no Oval Theater, em Manchester, em 1997. No ano passado, criou o espectáculo "Dis Nasti Dog", juntamente com Carlota Lagido e o músico Vítor Rua. Isto enquanto, a título pessoal, continua a trabalhar em artes plásticas, embora confesse que nada fará para penetrar nesse meio. A sua mais recente aventura no mundo da "performance" — ou da dança-teatro, que considera o termo mais correcto para classificar o seu trabalho — foi "S. Freud, o Terceiro Ouvido", um espectáculo a solo que apresentou no início de Dezembro, no âmbito da 6ª edição do Festival X. Neste momento, já está a trabalhar no projecto para um vídeo-dança, que diz querer levar a bom termo quer tenha dinheiro ou não! Num mundo onde não há assim tantas oportunidades para trabalhar e em que raros são os criadores que conseguem subsistir unicamente através da actividade artística, João Galante diz que o segredo do seu sucesso é a persistência, essa vontade de fazer coisas que o leva a ir sempre em frente. Com ou sem meios, recusa-se a parar.