Data de publicação: 16/04/2008
Em digressão por Portugal a companhia de dança norte-americana Pilobus apresentou-se, inicialmente, no Teatro Circo de Braga, depois no Coliseu de Lisboa e, seguidamente, no Europarque e Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, com um programa particularmente divertido e altamente musculado.
Este grupo, com nome de fungo, é um produto estritamente americano, nascido, casualmente, no início dos anos 70 num meio rural, derivado do entusiasmo de uma professora que despertou o interesse da dança em jovens estudantes universitários sem qualquer preparação artística. E o resultado saldou-se numa das mais genuínas e criativas companhias mundiais, com um trabalho que toca fortemente os imaginários infantil e adulto, baseado em ginástica acrobática, contorcionismo delirante e forças combinadas com orgânica elegância e um raro sentido de humor.
31 anos depois da sua primeira visita a Lisboa, e numa sala divorciada de um ambiente intimista, o Coliseu, os Pilobolus repetiram o curto solo – de quedas e reboletas – ‘Pseudopodia’ (74) e ‘Sem Título’ (75), um clássico do grupo, com toques vitorianos que, em 76 a Gulbenkian censurou. Desta vez, as duas mulheres de longos vestidos e chapéu, “deram à luz” dois homens como vieram ao mundo, na sua ingénua e poderosa nudez, contrastando com os dois cavalheiros que lhes fazem a corte. Outro ponto alto da noite foi o quarteto masculino ‘Gnomen’ (97) em que o músculo, puro e duro, encerra uma desusada poesia criando a ilusão de um continuado enrolar e desenrolar em câmara lenta, desafiando a força da gravidade.
Com o recente ‘Ama. Come. Morre’, o grupo brindou o público com um magnífico exercício de sombras chinesas, com bichos fantasmagóricos criados com desbragada imaginação, lembrando a sua participação na última noite dos Óscares em Hollywood. ‘Aquatica” abriu o show com referências marinhas – conchas, ondas e algas em movimentos lentos e ligados – tenho ‘Megawatt’ encerrado em frenesim e com música rock uma noite variada e que mostrou bailarinos que contam histórias subtis, ou apenas ilustram ambientes cinéticos, com uma desusada resistência e capacidade física.