Data de publicação: 01/11/2008
Susana Lima é uma das bailarinas que mais se destaca no nosso panorama de intérpretes de dança.
Desde sempre ligada à Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo (CPBC) confessa ter começado na dança, com cerca de dez anos, “completamente fora do percurso normal”. Isto é, ao contrário do que é mais comum – sobretudo no nosso País – o início do seu treino foi com dança moderna, com a professora Teresa Rego chaves, no Ginásio Clube Português.
Curiosamente, acrescenta: “quando comecei com aulas de bailado clássico foi uma verdadeira tortura”.
Lembra-se que, depois, frequentou a Escola de Dança do Conservatório Nacional, tendo depois passado por um curso ministrado na Companhia Nacional de Bailado (CNB) antes de se formar, em 1995, na Escola Superior de Dança (ESD).
Daí, passar a profissional foi um passo já que, entre o período em que se graduou, no Verão, e o final do ano trabalhou como “independente” com vários amigos e coreógrafos tendo, no início de 96 embarcado na “aventura” da UPE Dança. Tratava-se de um grupo de antigos alunos da ESD e ex-bailarinos da CNB dirigidos por Vasco Wellenkamp na ESD que, após cerca de dois anos de espectáculos com um carácter algo irregular, haveria de dar lugar à CPBC.
Esta “companhia de autor” surgiu por altura da Expo’98 e sobre ela Susana Lima afirma sem hesitações: “é o meu projecto”!
“Nunca consegui dar o passo para fora dela” acrescenta com um misto de doçura que denota uma deliberada “falta de coragem”. “Nem sequer ponho a hipótese de deixar o ‘núcleo duro’ do grupo – de que fazem parte também a Rita Judas, a Rita Reis e a Patrícia Henriques; a Liliana Mendonça e a Cláudia Sampaio juntaram-se a nós depois – porque somos, realmente, a base da companhia. A maioria do elenco tem entrado e saído mas nós, agora já com a São e o Emílio, somos os que criámos raízes”.
Embora não tenha tido grandes solos ou duetos criados para si a verdade é que, ao longo de umas sete temporadas, a bailarina quase sempre faz “seus” todos os momentos em que se apresenta em cena. E quantas vezes com um rigor e uma energia tão particulares.
No momento presente o futuro não se apresenta risonho para os grupos que, de um modo ou outro, acabam por depender do Ministério da Cultura ou de autarquias, como é o caso. “Deixar este trabalho tem implicações e problemas que agora não quero equacionar, porém, se a companhia acabasse – coisa fácil neste país – eu teria que pôr em cima da mesa outras alternativas”.
Mas “a CPBC não vai ter esse fim, nós vamos todos lutar para que isso não aconteça”.
Susana considera muito importante para a sua carreira a passagem pelo Grupo Juvenil Ciclorama, o que lhe deu “uma rodagem de espectáculos em todo o tipo de condições” valiosíssima para o seu desempenho profissional. “Esta espécie de ‘estágio’ que fiz quando tinha mais ou menos 14 anos deu-me um traquejo que me deixava muitíssimo mais à vontade em palco que a grande maioria dos meus colegas quando nos tornámos bailarinos a sério. Este tipo de grupos é muito importante que existam já que contribuem para a formação de muitos jovens”.
Quando ao reportório da companhia – quase exclusivamente da autoria de Wellenkamp – Susana Lima afirma “sentir-se em casa” pois conhece muito bem a metodologia e gostos do seu director. O mesmo acontece com os trabalhos de sua colega Rita Judas, que acredita ser uma jovem coreógrafa em ascensão.
Teve, contudo, particular prazer em dançar o segundo trabalho que o coreógrafo inglês Henry Oguike criou para a CPBC, assim como uma das últimas criações de Wellenkamp, uma peça sobre García Lorca, em teve a oportunidade de fazer um aturado trabalho dramatúrgico sob a orientação do encenador João Mota.
Quanto ao futuro, Susana, embora sabendo que há, neste Portugal, “espaço para todos”, não deixa de se interrogar pois sabe que tanto o “seu trabalho” como a “sua companhia” são prenhes de riscos.
Mas, entretanto, tem uma vida afectiva estável e o que mais quer é dançar em Portugal e no estrangeiro de onde, recentemente trouxe uma grande alegria – conhecer pessoalmente, em Itália, uma das grandes divas do século XX, a “ballerina” Carla Fracci.