O bom filho a casa torna 

Esta temporada, o Teatro Nacional de S. Carlos, ou seja a nossa casa da ópera, deixou de fora a Companhia Nacional de Bailado para convidar duas coreógrafas independentes, Olga Roriz e Clara Andermatt, para um pequeno ciclo de dança.
Roriz conhece bem os cantos do vetusto edifício já que aí fez estudos de dança e começou a sua carreira, ainda adolescente, em espectáculos de ópera.
“Paraíso”, a sua última criação, foi estreada no Festival de Leiria, no Verão, e desceu à capital uns meses depois.
Trata-se de um trabalho para um palco nu (onde se podem ver apenas cinco rechonchudos sofás com rodízios e vários projectores), num registo deliberadamente “bauschiano”. Não só nos adereços, mas também nos figurinos, se detecta um perfume exalado pela dança-teatro de  Pina Bausch. 
Sem história, a peça resulta numa criteriosa sequência de “diabruras”, mais ou menos inconsequentes e caricaturais, em que várias cenas se sobrepõem ao longo do espectáculo.

 


Seis empenhados e convincentes intérpretes vão desfiando variados temas musicais roubados a um baú de nostalgia e recordações. Não parece haver qualquer critério na escolha musical, da responsabilidade da coreógrafa e em várias línguas, cruzando-se Zeca Afonso com Edith Piaf, Frank Sinatra e Carmen Miranda. 
Num ambiente ‘retro’, Sara Carinhas é uma excelente actriz e cantora de serviço. Pedro Santiago Cal, o músico-cantor e assistente-de-palco que tudo arruma e limpa atenta e esforçadamente. O jovem Bruno Alexandre tanto faz de Fred Astaire como de galã compulsivo que é esbofeteado sem qualquer razão aparente que não seja um impulso sexual sado-masoqusita.
O trio Catarina Câmara, Sylvia Rijmer e Maria Cerveira, protagoniza personagens mais complexas e chamativas. São todas estupendas na dança, no canto e na representação de apontamentos trágico-cómicos com um sentido teatral de rara qualidade.
De um modo geral, os dois rapazes são menos bem “acabados” nos seus desempenhos dançados, embora dêem boa réplica às suas colegas. 
“Paraíso” resulta num animado ‘show’ multilingue de hora e meia em que a felicidade de cantar se esbate no riso nervoso do exagero e do grotesco.

OLGA RORIZ - PARAÍSO Alexandre Câmara Carinhas Santiago Cal Rijmer_TNSC  3