O novo (velho) director da CNB

Apesar do encerramento da melhor companhia de dança portuguesa de sempre, o Ballet Gulbenkian, e de um panorama rarefeito de grupos profissionais, nunca se terá dançado tanto em Portugal como nos últimos tempos.
O que não quer dizer que a dança tenha melhorado de qualidade do ponto de vista criativo e de produção.
Nunca se viu tanta dança comercial (televisão, publicidade, festivais, concursos, etc.) e nunca as escolas foram tão solicitadas para formas de movimento tão díspares e exóticas como o hip hop, as danças indianas, afro-brasileiras, orientais, espanholas, argentinas e caribenhas e para técnicas alternativas como o tai chi, o chi kung, o ioga, Pilates, Alexander e Feldenkrais, entre outras.
A dança tornou-se num lugar de fronteira entre quase todas as artes tendo, inevitavelmente, sido contaminada - a palavra, frequentemente, deve aplicar-se no seu sentido original - pelas novas “tecnologias”, abrindo caminhos até, há pouco, desconhecidos.
Mas sem uma visão estratégica a nível nacional e regional e políticas sensatas de ensino e divulgação de uma arte, tão efémera quanto fascinante, os resultados nunca podem ser brilhantes. Em Portugal nunca se planeou e realizou com vista a conseguir resultados que não fossem fruto do acaso ou de talentos mais ou menos dispersos. 
Atente-se ao caso exemplar de França que, para além de uma sólida tradição artística, possui inúmeras companhias de grande qualidade, um magnífico Centro Nacional, em Paris e, nada menos que, 19 Centros Coreográficos Regionais. Para além de uma bem planificada e muito requisitada rede de estabelecimentos de ensino.
Ao contrário, a nossa dança, alterna entre a “clássica” Companhia Nacional de Bailado e projectos mais ou menos interessantes e mais ou menos profissionais, na vertente contemporânea.
Se por um lado temos uma companhia em Lisboa, dita Nacional – sem que ninguém possa precisar o que é que essa palavra significa – com uma nova direcção e um reportório e um elenco maioritariamente estrangeiros e de qualidade muito irregular; por outro, existe um grupo de artistas sérios que tentam manter viva a chama em pequenas companhias com poucas possibilidades de garantirem uma actividade regular.
Nos últimos tempos têm fechado mais grupos e companhias do que aparecido novas estruturas com alguma possibilidade de vingar. Veja-se o caso do grupo de Benvindo Fonseca que, como poucos, enchia o Teatro Camões e obtinha sucesso no país e no estrangeiro. Mesmo assim não resistiu à falta de apoios.
A pulverização de projectos pontuais, suportados pelo antigo Instituto das Artes, que agora se denomina Direcção Geral das Artes (DGA), pouco tem feito pela nossa dança. Até agora a DGA tem funcionado como um organismo de contornos surrealistas, que muda de director com a chegada de cada novo governo, e que não passa uma imagem de seriedade para a comunidade da dança. Os muitos funcionários administrativos, que nem um concurso com jurados confiáveis conseguem lançar, têm vindo a desbaratar, ano após ano, as verbas dos impostos dos Portugueses em propostas altamente questionáveis e de interesse e representatividade (no país e estrangeiro) praticamente nulos. As verbas são distribuídas mas a verificação das obras, quantas vezes pagas integralmente pela DGA, e os seus resultados práticos, tem sido, praticamente, nula.
E assim se vai perpetuando uma auréola de mediocridade com que o Ministério da Cultura parece não se preocupar nem dar qualquer resposta consistente.
Esperamos, sem grande convicção, os resultados da programação que Vasco Wellenkamp – o novo (velho) director da CNB - sob a alçada do OPART, que distribuiu verbas pela ópera e pela dança de cariz oficial.
Um debate alargado, a nível nacional, entre fazedores de dança e políticos é, pois, da máxima urgência. E só peca pelo atraso num país em que o autismo tem sido a moeda de troca entre artistas e os políticos que pensam que sabem tudo daquilo que nada sabem.


António Laginha