foto - Queiroga - cortada BOA 

Vitimada por doença oncológica, Isabel Queiroz - uma das bailarinas que mais brilhou no extinto Ballet Gulbenkian - faleceu, no dia 13 de Dezembro de 2007, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Artista de grande sensibilidade e apurada técnica – rápida e precisa - acompanhou o percurso do Ballet Gulbenkian desde o seu nascimento até quase ao seu epílogo. Após atingir o estatuto de artista principal, ainda deu o seu contributo à companhia como ensaiadora e mestra de bailado.
O público da Gulbenkian teve oportunidade de vê-la brilhar em obras como “Amor de Perdição”, “Catulli Carmina”, “O Lago dos Cisnes”, “Pulcinella”, “O Combate de Tancredo e Clorinda”, ”Tekt”, “Ao Crepúsculo”, “Wirligogs”, “O Trono”, “Cinco Tangos” e “Werbern Opus 5”.  

Maria Isabel de Meneses Mourão Queiroz nasceu em Lisboa em 7 de Abril de 1948 e iniciou, aos sete anos, os estudos de dança clássica com a professora alemã Ruth Asvin, no Lisboa Ginásio Clube.

Não só a música a fascinava como a prática da ginástica aplicada lhe deu flexibilidade e facilidade de movimentos.
Apenas com 10 anos Isabel Queiroz participou num curso com o professor inglês Norman Dixon, no Grupo Experimental de Ballet (GEB). Dois anos depois pisou o palco, pela primeira vez, no bailado “Quebra-Nozes”.
A pouco e pouco foi entrando em bailados como “Homenagem a Florbela” (Dixon) e “O Crime da Aldeia Velha” (Águeda Sena). Aos 16 anos integra, como estagiária, o GEB do Centro Português de Bailado e, um ano depois, em 1965 faz parte do primeiro elenco do Grupo Gulbenkian de Bailado (GGB), quando a Fundação Gulbenkian chamou a si a administração directa da pequena companhia.
 

A jovem artista foi, então, escolhida pelo escocês Walter Gore entre os melhores bailarinos portugueses da época.
Depois dele veio o croata Milko Sparemblek para a direcção artística do grupo, de quem Isabel Queiroz dançaria papéis principais de muitas peças estreadas no GGB. Também o coreógrafo português Carlos Trincheiras haveria de ser marcante na carreira da bailarina que, no Verão de 1968 como bolseira da Fundação Gulbenkian, trabalharia em Londres com mestres de renome.
Jorge Salavisa foi o responsável pela sua ida a Bruxelas para trabalhar com Maurice Béjart no dueto “”Werbern Opus 5”, ao lado de Ger Thomas.
Aos 30 anos (na temporada de 77/78) foi promovida a bailarina principal.

Em 1985 recebeu o Prémio Nova Gente, para a melhor bailarina do ano, e em 89 dançou pela última vez com o Ballet Gulbenkian, na cidade de Lubliana na antiga Jugoslávia, o bailado "Ghost Dances" da autoria de Christopher Bruce, com Milko Sparemblek a assistir. Nesse mesmo ano assumiu o cargo de ensaiadora, transmitindo a muita experiência acumulada aos mais novos, e, em 1993 o de Mestra de Bailado.

Sem festas de circunstância ou despedidas programadas deixou a dança em 1996 com a maior descrição.
Fê-lo como sempre conduziu a sua carreira e, como então afirmou, “não deu grande ênfase ao facto" pois "achou natural dar o lugar a outros".
E "foram muitos anos", acrescentou, "de uma vida dedicada à dança, com um trabalho pesado, numa casa onde sempre se sentiu como na sua". Nela teve "a sorte de ser dirigida por personalidades tão ilustres como Lifar, Dolin e Massine". Naquela altura, confessou, "nem interessava muito qual o papel que se dançava, o que era mesmo importante era trabalhar com gente famosa que já fazia parte da História da Dança".

Carlos Trincheiras foi o coreógrafo que melhor a conhecia, dizia Isabel Queiroz, e, por conseguinte, o que mais criou para ela papéis solísticos e explorou a sua personalidade, fino recorte técnico e especial rapidez de execução.
Também assinalou ter gostado muito de trabalhar com coreógrafos contemporâneos como Lar Lubovitch, Milko Sparemblek, Norman Walker e Christopher Bruce.
Porque "tinha tudo aqui em casa" e porque não teve "ambição maior do que chegar à categoria da primeira bailarina em Portugal" foi ficando por Lisboa, desprezando uma muito possível e frutuosa carreira internacional.

Em Junho de 2005, apareceu em palco pela última vez no Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa, a convite do coreógrafo Benvindo Fonseca, no papel titular do bailado "A Casa de Bernarda Alba".

 

(...) A tensão, mais do que a narrativa, vive na silhueta altiva e dominadora de Bernarda – a impressionante Isabel Queiroz – e nos corpos das filhas Angústias (Elisa Ferreira), Martírio (Maria João Salomão) e Adela (Isadora Ribeiro) e do amante desta, Pepe (Hugo Martins) (...)


António Laginha in "Correio da Manhã"