Data de publicação: 16/04/2008
Desta vez no Campo Pequeno, lugar muito associado à festa brava, Joaquín Cortés apresentou, pela segunda vez em Portugal, o espectáculo “Mi Soledad”. Uma espécie de “gitaneria” pós-moderna com algum sabor a plástico e todo recheado de sedução.
Desde a sua estreia em Portugal, no ano 2000 no Centro Cultural de Belém, que Cortés tem vindo repetidamente ao nosso País, onde, segundo parece, dança mais que na sua nativa Espanha.
O público, que esgotou todos os lugares postos à venda, delira com um flamenco de “fusão” em que o narcisismo impera, vibrando com toda e qualquer sequência em que Cortés exibe o seu virtuosismo. Longe do espírito de um “tablao”, os espectadores recebem o espectáculo como se estivessem em presença de difíceis números de circo ou de perigosas “faenas”, gritando, batendo palmas e assobiando repetidamente.
É certo que o artista “cordobés” (nascido na cidade andaluza de Córdova há 38 anos) é um exímio taconeador. O seu rendilhado e nervoso “taconeo” é do melhor que existe no mercado mas os seus espectáculos, ainda que com sugestivos títulos, raramente primam pelo conteúdo. Este não vai além de repetidas sequências de canto e dança em que, visivelmente, Cortés se poupa nos primeiros dois terços do show.
Para além do bailarino-coreógrafo passam pelo palco seis “cantaores” (três mulheres e três homens) e dez músicos.
Os sons que acompanham Cortés vão muito para além do recorte flamenco exibindo nítidas influências tangueras e outras. A cenografia e iluminação são parcas, não dispensando o bailarino uma cruz luminosa dupla, projectada no solo à boca de cena, onde aparece logo no início em poses de cruxificado.
Ao longo do espectáculo, Cortés também se socorre de outra pose recorrente, a de matador, por vezes saído das brumas com a ajuda de fumos e cortinados negros e com roupas (que gosta de despir em jeito de “stripper”) a imitarem capas de toureio.
Desta vez a novidade foi um discurso, como ele próprio afirmou, ”em portinhol”, no fim de um espectáculo com mais de hora e meia, e em que o artista não só agradeceu o carinho do público lisboeta como, orgulhosamente, realçou as suas origens ciganas, a sua sede de liberdade e a sua gratidão para com a avó que o criou…