Paulo Ribeiro deixou Viseu... e voltou a Viseu !

 

O coreógrafo lisboeta assumiu, em Setembro de 2003 e por um período de três anos, a direcção artística do Ballet Gulbenkian (BG).

Dois anos depois foi arrastado com a queda da companhia e voltou ao CRAE das Beiras, sedeado no Teatro Viriato, em Viseu.

O coreógrafo português, que foi seleccionado por “anúncio” a nível internacional, foi durante oito anos director da sua própria companhia – Companhia de Paulo Ribeiro (CPR). A mesma está sedeada no Teatro Viriato, em Viseu, desde 1998. Durante todo esse tempo acumularia o cargo de Director Geral e de Programação do Teatro Viriato/CRAE (Centro Regional das Artes do Espectáculo das Beiras).

Foi sem surpresa, mas com algum alívio, que o grupo da Gulbenkian dispensou a brasileira Iracity Cardoso que veio para Portugal (pela mão de Jorge Salavisa) sem qualquer experiência prévia na direcção de uma companhia de bailado. 

 

Aliás, com esta contratação, o Serviço de Música da Fundação Gulbenkian dera um passo atrás convidando um estrangeiro para dirigir a mais antiga companhia portuguesa. Depois de um período conturbado para a instituição e para o próprio grupo de bailado, na sequência do 25 de Abril, e de se ter percebido que Portugal já não necessitava do “profissionalismo” de estrangeiros como no passado, o mestre de bailado em exercício, Salavisa, foi promovido a director artístico, cargo que ocupou demasiado tempo – quase duas décadas.

Voltámos, assim, a ter à cabeça do BG não só um artista português como um coreógrafo, situação que não de verificava desde os tempos de sucesso do croata Milko Sparemblek na Praça de Espanha.

De seu nome completo Paulo Manuel de Oliveira Santos Ribeiro, nasceu em Lisboa em 21 de Fevereiro de 1959 e terá sido o seu interesse, primeiro pelo judo e depois por outras artes marciais, que fez com que entrasse na área do trabalho corporal.

Viveu no Rio de Janeiro entre 75 e 78 e nessa cidade estudou psicologia antes de partir para Bruxelas, onde se radicou e iniciou a sua formação em dança propriamente dita. Estudou dança clássica e contemporânea com a já falecida Carmen Larumbe, assim como composição em algumas escolas belgas antes de, em 1981, debutar profissionalmente no Ballet Contemporâneo de Bruxelas, dirigido por aquela bailarina, professora e coreógrafa argentina. Seguidamente dançou com o Ballet da Ópera de Lyon (1982-84) e, como "free-lance", com várias pequenas companhias experimentais (conotadas com a "nouvelle danse") como a de Anne Dreyfus, de Christine Bastin, de Charles Cré-Ange, de Anna Marie Reynaud e de Serge Keuten, fundador do GRCOP.

Em 84 forma a Stridanse com quatro bailarinos da ópera de Lyon que, descontentes com o reportório da companhia começaram a fazer pequenas peças em conjunto. É com este grupo que cria as suas primeiras peças:

"Meu Caro Amigo" (1984), "Stride la Vampa" (1984) e "Facéties" (1985).

Em 1984 ganharam o Prémio de Humor no Concurso Volinine, em Paris, e, no ano seguinte, o 2º Prémio na secção de "criação contemporânea".

Em 1987 regressa a Portugal e faz parte, como bailarino e depois também como coreógrafo, da Companhia de Dança de Lisboa (CDL). Para o grupo fundado por Rui Horta cria "Taquicárdia", em 1988 (com música composta expressamente por Luis Cília), seguindo-se, ainda para a C.D.L., "O Derradeiro Beijo" (1989).

Em 1988 e 89 participa na criação dos espectáculos "Drama Per la Danza" com a Four Solaire e "Sonho de Uma Noite de Verão" com a Companhia de Charles Cré-Ange. Monta duas peças para a "Maison de Culture" de Tournai e para o "Chapiteau Français de La Danse" e trabalha nas comemorações do Bicentenário da Revolução Francesa, em Nevers.

A partir dessa altura concentra-se na sua carreira de coreógrafo tendo, a convite expresso de Jorge Salavisa, criado a peça "Ad Vitam" (Richard Strauss e António Emiliano - Nuno Carinhas) e "Percursos Oscilantes" (John Laurie/Nina Simone/Henry Torgue/René Aubry - Vera Castro - Orlando Worm) ambos em 1990, para o Ballet Gulbenkian.

Também nesse mesmo ano apresenta um projecto a Madalena Perdigão intitulado "O Beijo da Técnica no Futuro", que viria a ser apresentado na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da Fundação.

"Encantados de Servi-lo" (Luis Cília - Nuno Carinhas - Joop Caboort), em 1991, é a sua criação para o Nederlands Dans Theater II, o qual entraria para o reportório do Ballet Gulbenkian na temporada de 91/92.

Para a Bienal Universitária de Coimbra, em 1990, e para a Europália no ano seguinte, compôs o solo "Modo de Utilização".

Em Março de 91 é convidado par dirigir a CDL, posição que abandona, após uns escassos seis meses à frente da companhia, por divergências de fundo com o "director executivo".

Prossegue, posteriormente, uma carreira de coreógrafo independente coreografando, em 1992, para o Ballet do Grand Théâtre de Genebra, "Uma História de Paixão" com partituras de Luis Cília e Tchaikovsky e cenários e figurinos de Nuno Carinhas e "Uma Ilha Num Copo de Sumo", para um grupo de estudantes liceais e alguns bailarinos profissionais, a convite da Comissão dos Descobrimentos para se apresentar na Expo-92 de Sevilha, baseado no trabalho anterior "Beijo da Técnica no Futuro".

No ano seguinte cria "Le Cygne Renversé", um quarteto para o Centre Choréographique National de Nevers em França, posteriormente estreado no Acarte, em Lisboa. "Waiting For Volupia" foi a sua segunda peça para o Nederlands Dans Theater II, também em 1993.

Nesse mesmo ano coreografa "Inquilinos" (Dumisani Marraire/Evan Lurie / Pixinguinha - José Godinho - Nuno Carinhas - Orlando Worm) 1993, para o Ballet Gulbenkian e, em 1996, ''Quatro Árias de Ópera'' (em colaboração com Clara Andermatt, João Fiadeiro e Vera Mantero) e “Comédia Off -1'' e ainda "Ninfas", para a Companhia de Dança Contemporânea de Setúbal, além de "Rambo Ribeiro", para o ciclo "Auto-Retratos" no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém.

Em Abril de 94 cria “Dançar Cabo Verde”, no Coliseu dos Recreios em Lisboa de parceria com Clara Andermatt, após uma estada na Cidade da Praia. Este trabalho viria a ser galardoado como IV Prémio Acarte/Madalena Perdigão.

Em Maio de 95, estreia no Centro Cultural de Belém, "Sábado 2" um trabalho para a sua recém-criada companhia, constituída apenas por cinco bailarinos. Nos anos seguintes cria, sucessivamente, para a CPR, ''Rumor dos Deuses'', ''Azul Esmeralda'', ''Memórias de Pedra - Tempo Caído'', ''Orock'', ''Ao Vivo'', '' Comédia Off - 2'' e '' Tristes Europeus-Jouisissez Sans Entraves'' e "Silicone, Não"!

A obra ''Rumor dos Deuses'' foi distinguida em 1996 com os prémios de ''Circulação Nacional'' atribuído pelo Instituto Português do Bailado e da Dança, e ''Circulação Internacional'' atribuído pelo Centro Cultural de Courtrai, ambos inseridos no âmbito do concurso ''Mudanças 96''.

Paulo Ribeiro recebeu também outros prémios relevantes: '' Prix d'Auteur'' nos V Rencontres Chorégraphiques Internationales de Seine Saint-Denis, (França); '' New Coreography Award'' atribuído pelo Bonnie Bird Fund-Laban Centre (Grã-Bretanha), '' Prix d'Interpretation Collective'' atribuído pela ADAMI (França) e Prémio Bordalo, da Casa da Imprensa em 2001.

O trabalho coreográfico de Paulo Ribeiro começou a ter maior projecção em Portugal (e mesmo no estrangeiro) após o convite de Salavisa para criar em quatro temporadas seguidas para o Ballet Gulbenkian.

Aliando, no início da sua careira, a obras inseridas num certo "projecto de autor" um trabalho coreográfico regular em "companhias de reportório", Paulo Ribeiro definia o seu método de composição com apenas duas palavras "selvajaria inspirativa". Posteriormente o seu caminho afastar-se-ia desta premissa apostando numa vertente que contempla um enorme ecletismo formal e, sobretudo, a personalidade de alguns dos seus intérpretes, mormente Leonor Keil, que trouxe um “gosto” muito especial aos últimos trabalhos do coreógrafo.

Especialmente interessado em movimentos resultantes de situações de natureza psicológica, a ironia e a exploração de corporalidades antagónicas, são também factores sempre presentes na sua obra.

Com o desmembramento do Ballet Gulbenkian no Verão de 2005, Paulo Ribeiro que guardara o seu cargo em Viseu, ainda foi apontado como director do Teatro Aveirense. A edilidade da cidade de Aveiro, recusou a sua nomeação - que viria a cair na tripeira Ana Figueira - e Ribeiro acabou por voltar a Viseu.