TABLAO rita 

Numa época em que se procura toda a espécie de fórmulas para reinventar artes ancestrais como o flamenco – a mais publicitada e abrangente é o “flamenco de fusão” – foi bom ver António “El Pipa” e um grupo de artistas que apostam num “cuadro flamenco” sobre um “tablao” à moda andaluza, no palco do Auditório dos Oceanos no Casino Lisboa.
Dois guitarristas de excelente qualidade, três “cantaores” e uma “cantaora” de voz gravíssima, a Señora Juana, para além de cinco “bailaoras” – uma das quais muito jovem e plena de raça e estilo – acompanharam o magnífico artista cigano.

Nada de trajes “fashion” e música plastificada ou cenografia e iluminação sofisticadas (com raios lazer à mistura e projecções computadorizadas), pois o flamenco de “El Pipa” vende-se por si próprio como a afirmação de uma arte prenhe de emoções e sentimentos.

Não é que todos sejam excepcionais ou que a cenografia não pudesse ser mais depurada – a ideia de “tablao” está lá mas os painéis suspensos em semi-círculo encerram algo de “very typical” para consumo turístico – porém, o trabalho do bailarino é sério e atractivo.

Bom “taconeador”, o artista, que aparece de negro, vermelho e branco, coloca especial ênfase nas muito expressivas mãos e na sua recorrente atitude toureira. António, rodeado por seis mulheres vaidosas e competitivas, consubstancia todo um machismo latino que os novos tempos parecem, definitivamente, querer irradicar.